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Foto do escritorAtma Karan Singh

A Capa de Exu

Atualizado: 27 de jan. de 2022

A capa de Exu é um artefato muito conhecido dentro do Culto da Quimbanda, mas nem sempre os adeptos sabem qual é o significado e os usos deste instrumento. As explicações que existem sobre o assunto são deveras superficiais e até óbvias e foi justamente por isso que se faz necessário esclarecer certos pontos sobre o assunto.



As capas de Exu e Pombagira (elas também usam) representam um símbolo de proteção e acolhimento. Aquele que nunca foi envolto em uma capa jamais saberá a sensação de proteção e alívio que sentimos quando um Exu nos abraça. O calor e a energia são tão latentes que muitas vezes não desejamos sair daquele momento. Mas a capa e o uso da mesma estão conectados com outros fundamentos que vão muito além desses.


Nas batalhas e guerras antigas, a capa era usada como um artefato que ajudava o guerreiro a ter equilíbrio e velocidade em seus golpes. Ao girar, a capa funcionava como uma vela de barco e impulsionava os golpes, fazendo-os serem mais incisivos. Quanto mais pesadas, maior era o impulso. A capa também ajudava os guerreiros a se camuflarem nos campos de batalha nos períodos noturnos, pois muitas vezes essas batalhas ocorriam em descampados e a camuflagem poderia salvar uma vida. Naturalmente as capas protegiam contra as mudanças climáticas e serviam de barracas para o descanso.


Como a capa era parte de uniformes das forças armadas (milícias ou pequenos exércitos), os chefes de Estados (Imperadores, Reis, Príncipes, Duques e outros nobres) faziam uso da mesma. Além de terem conhecimento acerca do uso nas batalhas, os nobres usavam-nas como instrumento de intimidação. Assim nasceu o mito da ‘Capa Preta’. Os anos fizeram da capa (principalmente a preta) um símbolo de força, Lei, morte, punição e perseguição. Por tal motivo associam o uso das capa com a Justiça (juízes, promotores e advogados), polícia e inquisidores.


Nas sombras, as capas também tornaram-se objeto usado pelos assassinos e ladrões, principalmente as capas com capuz, afinal escondiam as faces dos meliantes. Isso fez com que as capas pretas formassem no homem um medo tão profundo que até as aparições espirituais involuntárias eram descritas espíritos portando capas escuras. Na idade média, muitos bruxos e bruxas (alquimistas, feiticeiros e magos) usavam as capas para esconder seu “Eu” profano e aflorar seu “Eu” mágico, afinal, a capa não valoriza as formas físicas e oculta todos os defeitos. Na magia negra as capas são como ‘segundas peles’ dos bruxos. Geralmente as capas eram usadas sob o corpo nu, ungido de óleo e unguentos mágicos.


Todo esse enredo marcou tão profundamente as pessoas e religiões que o mito da capa perpetuou-se ao longo dos séculos. Isso foi um dos principais motivos da capa ter sido largamente difundida como artefato do diabo. Obviamente que esse mito profano acabou sendo sugado pelos vórtices da Quimbanda.


Exu e Pombagira podem usar capas quando estão incorporados por diversos fatores:

  • Proteção das energias do escudo do adepto;

  • Símbolo de sua natureza;

  • Símbolo de seu trabalho;

  • Símbolo de sua patente;

  • Ocultação de suas intenções.

Nenhum Exu gosta que os adeptos fitem-no nos olhos. Isso porque os olhos (gira de Exu - Janelas) são transmissores poderosos enquanto ocorre a incorporação. Através dos olhos do adepto (médium) os Exus carregam e descarregam energias e por tal motivo não gostam que interrompam certos processos. Por isso é normal vermos Exus e Pombagiras com capas de gorro ou chapéus. No começo das incorporações os Exus costumam vir de olhos fechados ou semiabertos justamente pelo adepto ainda não conhecer e ter controle sob sua mente. Um olhar direto de Exu pode transtornar a energia de uma pessoa.


Dessa forma, o uso das capas está relacionado a muitos fatores. Uma capa não pode ser dada ou usada por um adepto (no culto de Exu) sem que o Exu esteja enquadrado em um ou mais fatores, ou seja, se Exu pede uma capa, devemos saber o porquê desse pedido e principalmente se o adepto (médium) está preparado para usar um artefato tão poderoso e simbólico. Pensem da seguinte forma: Se na nossa vida sairmos na rua com um resolver aparecendo na nossa cintura causaremos muitas reações externas. Medo, pavor, curiosidade, indagação e alguns olhares malignos vindo de pessoas que desejam testar nosso preparo com esse artefato. Se não estivermos preparados para usar a arma e voltar contra nós, ou melhor, o feitiço se vira contra o feiticeiro!


Um Exu de capa deve estar firme, sólido, assim como o adepto. Algumas corrente da Quimbanda alegam que para Capa o Exu deve ter o “Axé de Capa”, ou seja, ter sido testado pelo sacerdote responsável e ter oferecido informações históricas e energéticas que façam sentido.


Se o adepto deseja usar uma capa em seus ritos particulares não existe problema algum, mas um espírito precisa demonstrar controle sobre algumas correntes, pois, quando um Exu de capa nos abraça, troca energias conosco de forma harmoniosa e muitas vezes descarrega nosso corpo físico e astral.






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